Brics adota declaração conjunta sobre gestão de desastres: 'são mais intensos no Sul Global'

247 - Representantes dos 11 países do Brics reuniram-se em Brasília (DF) para a Reunião Ministerial sobre Gestão de Desastres, e assinaram uma Declaração Conjunta. O aumento na frequência e intensidade de desastres, agravados pelas mudanças climáticas, têm causado impactos socioeconômicos negativos, como o aumento da pobreza e retrocessos no desenvolvimento socialmente justo.

Lideranças que participaram da reunião destacaram quatro princípios fundamentais no documento: o primeiro é integrar as dimensões do desenvolvimento e da justiça social em todas as áreas de redução de riscos de desastres. O segundo é fortalecer a abordagem preventiva, em conformidade com o Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015–2030. Os outros dois princípios são orientar estratégias que se conectem à agenda climática, e avançar na elaboração de iniciativas sustentáveis de resiliência.

O ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, destacou a urgência da agenda ambiental e a necessidade de cooperação entre os países. “Esses impactos são sentidos ainda mais intensamente em nossos países do Sul Global. Por isso, a cooperação do Brics é essencial para fortalecer o multilateralismo e promover soluções tangíveis para os desafios que compartilhamos”, disse.

O ministro das Cidades, Jader Filho, também ressaltou o papel das parcerias globais no enfrentamento dos riscos climáticos. “Nossa participação ativa no Brics reflete nosso compromisso em avançar políticas públicas que fortaleçam infraestruturas resilientes e promovam ações integradas de resposta a desastres, consolidando nossa voz coletiva na agenda global de resiliência, inclusão social e adaptação climática”.

Os países-membros também concordaram em atualizar o nome do grupo para melhor refletir sua missão no âmbito da cooperação multilateral do Brics. A partir de agora, ele será chamado de Grupo Brics para Redução do Risco de Desastres.

O vice-ministro sul-africano de Governança Cooperativa e Assuntos Tradicionais, Prince Zolile Burns-Ncamashe, destacou a importância da solidariedade e do respeito entre as nações. Ele enfatizou a histórica parceria Sul-Sul e pediu responsabilidade no avanço do desenvolvimento sustentável global.

“O Brics mantém seu compromisso com a solidariedade, o coletivismo e o respeito às instituições multilaterais. Se continuarmos a inspirar outros órgãos globais, poderemos contribuir de forma significativa para a construção de uma ordem internacional segura, pacífica e resiliente a desastres”, afirmou.

"Devemos adotar uma visão mais ampla ao avaliar as contribuições de nossos parceiros — não apenas as de alguns privilegiados, mas de todos que demonstraram compromisso e integridade. Nenhuma nação deve se colocar acima das outras, pois, no fim das contas, todos compartilhamos este mundo e, com ele, a responsabilidade de construir um futuro mais pacífico e justo", complementou.

Mais detalhes

Na reunião, o Plano de Trabalho 2025–2028, elaborado sob a liderança do Brasil, foi oficialmente apresentado e adotado por unanimidade pelos Estados-membros. De acordo com Wolnei Wolff, secretário nacional de Proteção e Defesa Civil do Brasil, os desafios enfrentados pelos países do Brics compartilham características semelhantes, reforçando o valor da ação conjunta.

“Houve uma clara convergência de preocupações e desafios compartilhados, o que não só evidencia o valor da cooperação Sul-Sul, mas também fortalece nossa convicção de que, com humildade, escuta mútua e parcerias efetivas, podemos alcançar soluções que gerem benefícios reais e duradouros para nossas populações”, continuou o dirigente.

O encontro foi liderado pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e pelo Ministério das Cidades, que discutem o desenvolvimento de políticas de adaptação urbana e o fortalecimento das capacidades locais diante das mudanças climáticas.

Confira os 11 países que formam o Brics - Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Indonésia.

Presidência brasileira

O governo Lula afirmou que, sob a liderança brasileira, o Brics avançará em temas estratégicos como cooperação em saúde global, mudança do clima, comércio, investimento e finanças, governança da inteligência artificial e desenvolvimento institucional do Brics.

O Brasil assumiu a presidência do Brics em 1º de janeiro de 2025. Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, tem atuado em dois eixos principais: Cooperação do Sul Global e Parcerias BRICS para o Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental.

Essas agendas estão refletidas em seis prioridades: Cooperação em Saúde Global; Comércio, Investimentos e Finanças; Mudança do Clima; Governança da Inteligência Artificial; Arquitetura Multilateral de Paz e Segurança; e Desenvolvimento Institucional do BRICS.

Em Brasília estão previstas mais de 100 reuniões ministeriais e técnicas dos líderes do Brics. Os encontros tiveram início em fevereiro. A Cúpula do Brics foi marcada para acontecer nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro.

Alerta

Um estudo apresentado em 2024 pelo World Weather Attribution (WWA, na sigla em inglês), por cientistas de Holanda, Reino Unido e EUA apontaram que todos os dez desastres climáticos mais letais dos últimos 20 anos em nível global foram agravados por mudanças climáticas provocadas por emissões de gases-estufa decorrentes de atividades humanas.

Os desastres mataram mais de meio milhão de pessoas (570 mil pessoas). As mortes foram resultado de ciclones tropicais, ondas de calor, inundações e seca.