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'Processo de venda da Eletronuclear tem interesse bem positivo', diz presidente da Eletrobras

"Temos tido diálogos com vários grupos; é um processo concorrencial", disse o presidente da companhia, Ivan Monteiro

Ivan Monteiro (Foto: Alan Santos-PR (Flickr/Planalto))
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247 - Três anos após sua privatização, a Eletrobras enfrenta o desafio de equilibrar resultados operacionais positivos com o desempenho das ações no mercado, que ainda operam abaixo do preço inicial de R$ 42. O presidente da companhia, Ivan Monteiro, admite que sua maior preocupação são os 300 mil CPFs que utilizaram recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para adquirir papéis da empresa durante o processo de desestatização.

Em entrevista concedida ao Estadão/Broadcast, Monteiro reconhece a complexidade da situação. "Eu sempre falo que o que me tira o sono são aqueles 300 mil CPFs que tiraram recurso do FGTS e compraram ações da Eletrobras, mas o que nos dá orgulho é o fato de termos pago ano passado o maior dividendo da história desta empresa: R$ 4 bilhões", destacou o executivo.

A aparente contradição entre a melhoria operacional da empresa e o desempenho das ações é explicada pelo presidente como uma questão de horizontes temporais distintos. "Vincular isso com a performance da ação é tricky (complicado), porque esta é uma empresa de ativos construídos para permanecerem produzindo por 40, 50 anos, e o mercado de ações responde a coisas de muito curto prazo", argumentou Monteiro.

O dirigente avalia positivamente os três anos desde a privatização, enfatizando a recuperação da capacidade de investimento da empresa. Segundo ele, houve uma triplicação do valor dos investimentos, com foco em modernização, resiliência e disponibilidade dos equipamentos. "Os índices de disponibilidade, tanto de transmissão, quanto de geração, estão entre os melhores da história da empresa", afirmou.

Entre os projetos em andamento, Monteiro destacou investimentos superiores a R$ 1 bilhão na hidrelétrica de Tucuruí e a conclusão de obras que permaneceram inacabadas por anos. "A mais emblemática fica pronta na segunda quinzena de setembro: o Linhão Manaus-Boa Vista, uma obra anunciada há 11 anos", revelou.

A empresa também retomou sua participação nos leilões de transmissão, assumindo compromissos de investimento de R$ 6,7 bilhões, todos já em execução.

Eletronuclear - Um dos movimentos estratégicos mais significativos da Eletrobras é a busca por compradores para sua participação na Eletronuclear. O processo, conduzido pelo Banco BTG Pactual há mais de um ano, visa alinhar o portfólio da empresa com sua estratégia de concentração em fontes renováveis.

"Somos vendedores das usinas que geram energia elétrica a partir do urânio porque queremos nossa matriz eólica, solar e majoritariamente hidrelétrica", explicou Monteiro. O executivo revelou que as conversações estão avançadas: "Temos tido diálogos com vários grupos; é um processo concorrencial; com o nosso assessor, temos apresentado essa oportunidade, e o interesse é bem positivo até o momento".

O presidente estima que o processo pode ser concluído em cerca de um ano, ou até menos, dependendo do nível de interesse dos potenciais compradores. Ele contextualiza essa expectativa no cenário global de renovado interesse pela energia nuclear, impulsionado pelo crescimento da inteligência artificial e da demanda por data centers.

A transformação da Eletrobras também passa por uma mudança fundamental em sua estratégia comercial. Historicamente focada em vendas para distribuidoras ou no regime de cotas, a empresa agora busca relacionamento direto com clientes finais.

"Essa era uma empresa que não conhecia clientes. Os clientes eram as distribuidoras ou regime de cotas. Agora queremos o cliente original. Essa guinada envolve uma mudança de mentalidade", explicou Monteiro. A companhia construiu uma equipe dedicada à comercialização e está desenvolvendo metodologias próprias para precificação de energia.

Para clientes de grande porte, a estratégia é o relacionamento direto, oferecendo não apenas energia, mas soluções completas. Para consumidores menores, a empresa estabeleceu acordos de cooperação com parceiros como TIM e Banco do Brasil.

Monteiro projeta continuidade nos investimentos e melhorias operacionais para os próximos anos, sempre com visão de longo prazo. A recente assinatura do Acordo com a União, que encerrou disputas judiciais da pós-privatização, trouxe dois representantes do governo federal para o Conselho de Administração.

"Os membros indicados pela União vão dar uma contribuição extraordinária para o Conselho, porque são experientes no setor, num momento em que governo edita uma MP (Medida Provisória, 1.300/2025) que altera profundamente as regras", avaliou o presidente, referindo-se às 600 emendas apresentadas no Congresso sobre o tema.

Quanto à gestão de capital, Monteiro adota postura conservadora diante das incertezas geopolíticas e econômicas. "Fazemos uma gestão extremamente conservadora em relação a tudo, porque somos uma empresa com crescimento do volume de investimentos muito expressivo", concluiu, destacando o equilíbrio entre crescimento dos investimentos e distribuição de dividendos, sempre observando liquidez e alavancagem.

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